Emojis: posso usá-los no trabalho?

Todo ano, a Universidade de Oxford elege qual foi a “Palavra do Ano”. Os termos selecionados “refletem o espírito, o humor ou as preocupações de um determinado ano e têm potencial para mostrar uma parte da história social por meio da linguagem”.

Os responsáveis pelo homônimo dicionário Oxford analisam a língua inglesa em busca de dados e tendências para identificar quais expressões estão surgindo. Examinando as mudanças de uso da língua, eles consideram qual peça de vocabulário teve um significado cultural mais impactante.

Em 2024, a Palavra do Ano de Oxford foi brainrot. Segundo a instituição, a palavra “descreve uma suposta deterioração do estado mental ou intelectual do indivíduo, especialmente como resultado de um consumo exacerbado (hoje, particularmente, conteúdo online) considerado trivial ou pouco desafiador”.

Você pode aprender mais sobre o brainrot e como combatê-lo acessando essa matéria da Você S/A.

Com 20 anos de “premiação”, a Palavra do Ano já foi podcast, pegada de carbono, selfie, vape, pós-verdade, emergência climática, rizz entre outras. Mas, analisando a lista de expressões selecionadas, tem uma que se destaca.

Em 2015, a Palavra do Ano de Oxford foi 😂.

O “rosto chorando de rir” foi o primeiro – e, até agora, o único – emoji considerado Palavra do Ano. Para Oxford, os emojis protagonizaram a língua inglesa em 2015 – de um ano para o outro, o uso da palavra “emoji” mais que triplicou.

A escolha de 😂 foi por ser o emoji mais usado. Na época, ele representava 20% de todos os emojis usados ​​no Reino Unido, e 17% nos EUA; um aumento considerável de 4% e 9%, respectivamente, em 2014. Apesar de ter perdido um pouco de espaço com o surgimento de novas figuras, até hoje ele não foi destronado como campeão dos emojis, representando 5% do uso global.

Segundo Oxford, “os emojis não são mais exclusividade dos adolescentes e suas mensagens de texto. Eles foram adotados como uma forma de expressão diferenciada e que pode cruzar barreiras linguísticas”.

De lá para cá, os emojis dominaram ainda mais a comunicação digital: em 2015, metade dos comentários no Instagram incluíam um emoji; em 2017, cerca de 5 bilhões de emojis eram enviados diariamente por Messenger; em 2021, um em cada cinco tweets tinha pelo menos um emoji. Até o número de opções disponíveis saltou de pouco mais de 1,5 mil em 2015 para quase 4 mil em 2025.

Fora do mundo digital, muito da nossa comunicação se baseia na linguagem não verbal. Especificamente, apenas 7% da forma com que nos comunicamos é verbal, feita com palavras propriamente ditas.

Os outros 93% são divididos entre voz e linguagem corporal – 38% e 55%, respectivamente. Postura, contato visual, aparência, tom de voz, expressões faciais, tudo isso conta para comunicar algo, mesmo que inconscientemente.

Se você tentar consolar alguém depois da morte de um parente e fizer isso com um sorriso no rosto, falando de um jeito enérgico e empolgado, vai parecer que você está tirando onda da coitada da pessoa. Da mesma forma, uma expressão de raiva na hora de contar uma piada vai tirar todo o lado cômico da história. E manter um tom irônico o tempo todo vai, obviamente, fazer você parecer o maior babaca existente.

Na era da internet, essas nuances não verbais ficam bem complicadas. Como a maior parte da comunicação digital é feita quase que exclusivamente com palavras, é como se 93% da informação acabasse se perdendo. Com a pandemia e a migração em massa para o modelo de home office, é seguro dizer que muitos dos relacionamentos no escritório foram prejudicados. Só verbalmente, a comunicação fica muito mais impessoal.

Os emojis são uma forma de tentar reproduzir alguns dos aspectos não verbais da comunicação. Responder “que engraçado!” tem um significado, mandar 😂 tem outro. Reagir com um ❤️ é diferente de falar “amei”. Um emoji bem colocado é um apoio à sua mensagem inicial, ajudando a dar clareza e garantir que você seja interpretado do jeito certo.

92% da população online usa emojis, e uma das coisas mais interessantes sobre eles é justamente o fato de não serem uma linguagem própria. Na verdade, eles operam junto da sua língua, servindo como um aprimoramento da comunicação digital.

Os emojis se tornaram uma das formas de comunicação de maior sucesso da história. Hoje, eles são sinônimo de linguagem online – é quase impossível escapar deles dentro das redes. Contudo, dentro do escritório, ainda existem receios quanto ao seu uso. Será que emojis combinam com o ambiente profissional? 🤔

Uma brevíssima história dos emojis ⌛😉

Tudo começou em 1999 com o designer japonês Shigetaka Kurita. Ele trabalhava na equipe de desenvolvimento de uma das principais operadoras de celular do Japão, a DOCOMO. Kurita queria criar um jeito simples e sucinto de transmitir informações. Em vez de soletrar uma palavra, Kurita queria que houvesse um símbolo equivalente.

Os primeiros 176 emojis eram conjuntos de pequenas imagens de 12 por 12 pixels que serviam justamente para isso: auxiliar na comunicação digital. Com eles, um usuário da DOCOMO podia mostrar o clima usando um símbolo de sol, nuvem, guarda-chuva ou boneco de neve; indicar um meio de transporte com um carro, bonde, avião ou navio; ou ainda falar sobre tecnologia com um telefone fixo, celular, TV e videogame.

Se hoje os rostinhos amarelos predominam na nossa ideia de um emoji, nos 176 caracteres originais eles eram a minoria: apenas sete expressões, sendo dois rostos de gatinhos. O objetivo de Kurita era expressar informações, então seus emojis representavam ideias mais práticas e concretas – não emoções.

Mas esses símbolos tinham esse potencial escondido e passaram a adicionar subtexto às mensagens. Achou que ela foi fria demais? Adicione um ❤️ que sua simpatia vai ficar mais clara. Esse foi o começo de um novo tipo de comunicação.

“Simples, elegantes e incisivos, os emojis de Kurita plantaram as sementes para a explosão de uma nova linguagem visual”, afirma o Museu de Arte Moderna de Nova York. Desde 2016, os 176 emojis originais fazem parte da sua coleção. “Substituindo a linguagem corporal, eles reafirmam o humano no espaço abstrato da comunicação eletrônica.”

–Emojis no trabalho 🤩💼

Não tem o que fazer, os emojis já são uma realidade inevitável da presença digital. Seja em mensagens de texto, emails, redes sociais… não existe um internauta que não tenha visto um desses caracteres recentemente.

Eles são uma ferramenta de comunicação bem singular, que pode ser muito útil, mas também atrapalhar bastante.

“No seu melhor, os emojis podem transmitir uma frase inteira ou um conjunto de emoções com um único caractere”, afirma Scott J. Varda, professor de comunicação na Baylor University. “No seu pior, os emojis podem transmitir um conjunto de significados distantes, e até opostos, ao significado pretendido.”

Varda dá um exemplo bem claro dessa possível falha de comunicação: o emoji de joia 👍. Ele é o quarto emoji usado com mais frequência, mas diferentes gerações podem interpretá-lo de formas distintas. “Alguns usuários mais velhos pensam nele como uma forma de dizer ‘concordo’, ‘bom trabalho’ ou ‘é isso aí!’ – enquanto usuários mais jovens podem entendê-lo como uma resposta passivo-agressiva, sarcástica ou até totalmente grosseira.”

Emojis são ferramentas linguísticas poderosas que oferecem possibilidades que apenas textos não são capazes de oferecer, mas também acumulam riscos novos.

No ambiente profissional, onde sua comunicação precisa ser clara o tempo todo, incorporar emojis pode ser uma questão polêmica. Vamos entender as vantagens e desvantagens dos emojis no trabalho.

😃👍

Reforçando: o emoji correto pode potencializar a sua mensagem, te ajudando a transmitir a informação com mais eficiência, menos frieza e em menos caracteres. Os emojis podem enriquecer comunicações virtuais e ajudam a esclarecer o tipo e a força das emoções expressadas.

O ponto positivo mais forte em favor dos emojis talvez seja a comunicação mais pessoal. Incorporar emojis na conversa digital com seus colegas de trabalho pode ajudar a criar uma atmosfera mais positiva – especialmente se suas interações são majoritariamente online. Formar e manter bons relacionamentos no trabalho é importante para a felicidade e produtividade dos colaboradores. Para gestores, emojis podem ser uma forma de melhor se conectar com seu time.

Mas isso também se aplica nos laços para fora da empresa. Ser formal demais pode afastar potenciais clientes. Por mais que eles possam estar representando CNPJs, ainda são pessoas com sentimentos. Deixar um lado um pouco mais pessoal evidente pode apelar para o lado emocional da sua empresa. Um estudo identificou, por exemplo, que emojis em contextos empresariais resultam em maior percepção de empatia e de presença social. Outro estudo mostrou que pessoas que mandam mais emojis costumam lidar melhor com as emoções. O contrário também se aplica – quem enviava menos, tinha menos inteligência emocional.

Os emojis ajudam a construir conexões com seus clientes e colaboradores porque são considerados expressões mais sinceras do que meras palavras. O uso de emojis em um ambiente de negócios dá a impressão de que você é honesto e acessível. Se sua mensagem parece fria demais, um emoji sorridente como esse 😃 pode mostrar que você é amigável.

Emojis também são chamativos. Eles se destacam entre as letras que compõem o restante do texto. Usar emojis de forma eficaz pode te ajudar a enfatizar sua mensagem. Seja em emails de comunicação interna ou em posts para as redes sociais, um emoji bem colocado pode ajudar a prender a atenção do seu receptor. Usar o emoji de sirene 🚨 para fazer anúncios importantes, um emoji festeiro 🥳 para avisar da festa da firma ou um que usamos muito no Instagram da Você S/A: a mãozinha escrevendo ✍ para sinalizar o autor de um texto.

😠👎

É claro que também existem desvantagens no uso de emojis. O argumento mais claro, e também muito repetido, contra os emojis no trabalho é que sua interpretação não é universal. Uma pesquisa de 2022 feita pelas plataformas Slack e Duolingo descobriu que, dos 9,4 mil entrevistados, 58% não sabiam que certos emojis têm múltiplos significados.

Essa questão é principalmente uma diferença geracional. A geração de nativos digitais, que cresceram acostumados à internet e comunicação nesse meio, extrapolou o significado dos emojis para além do que aparentam. Enquanto isso, os mais velhos ainda se atêm à imagem inicial.

O caso do joinha 👍 mencionado por Varda é só um exemplo, mas existem vários outros. O emoji de caubói 🤠, que é basicamente uma carinha sorridente com um chapéu, tem um significado irônico. Ele é usado quando você está feliz por fora, mas bem chateado por dentro. “Vou trabalhar de plantão no meu aniversário 🤠”. “Vou ter que assistir a outra palestra do RH 🤠”. “Meu chefe veio me passar mais trabalho 🤠”. São usos sarcásticos em que a pessoa está claramente descontente com a situação.

Outro exemplo, que eu, particularmente, uso muito, é o emoji de caveira 💀. Originalmente pensado para indicar morte, ele foi transformado num equivalente mais poderoso do 😂. É como se você dissesse “isso é tão engraçado que eu morri”. Ou então para indicar choque ou desespero com uma situação: como em “eu ainda preciso terminar minha matéria dos emojis 💀💀💀💀”, uma mensagem real que eu mandei para minha colega de redação.

Existem dicionários e guias de como a “geração Z” usa emojis com uma distância enorme entre seu significado e a imagem original. Na maioria das vezes, os funcionários mais novos estão cientes de como as demais gerações usam os emojis. Contudo, eles ainda podem ser motivo de estranhamento entre colaboradores. Uma carinha feliz pode ser sarcástica dependendo de como é vista ou usada.

De repente, o ❤️, que era para dizer só “bom trabalho” ou “adorei isso”, pode ser visto de um jeito diferente, associado a assédio sexual, e gerar uma conversa no RH. Mas é importante ressaltar que os emojis não são o único jeito de rolar um mal-entendido na comunicação da firma. Por isso, é bom sempre tomar cuidado com a forma como você se expressa, seja por palavras ou emojis. A comunicação no trabalho tem de ser clara e respeitosa, sempre.

Os emojis podem ser uma faca de dois gumes. O mesmo estudo mostrando que, em contextos empresariais, eles resultam em maior percepção de empatia e de presença social, também percebeu que eles podem dar a impressão de menor competência.

Em determinadas situações, os emojis podem parecer pouco profissionais. Como são uma forma de comunicação mais recente, um usuário mais velho pode estranhar seu uso. Para ele, que esperava algo mais tradicional, você pode causar estranheza e parecer menos competente .

Por fim, existe uma questão um pouco mais técnica: emojis podem ser um problema de acessibilidade. Por se tratarem de símbolos visuais, leitores com baixa visão podem não ser capazes de diferenciá-los. Esses três emojis 😕🙁☹️ são diferentes entre si, apesar de extremamente parecidos. Dependendo do grau da deficiência, os pictogramas podem parecer pequenos borrões.

Todos os emojis têm uma pequena descrição oficial, que funciona como um texto alternativo. Pessoas cegas usam leitores de tela que descrevem, em voz alta, o texto. Na hora de ler o emoji, o leitor de tela vai falar a sua descrição. A desse emoji 😘, por exemplo, é “rosto mandando um beijo”. Vários são descrições simples, mas algumas são muito longas. Este 👈 é chamado de “dorso da mão com dedo indicador apontando para a esquerda”. Imagina ter de ouvir esse nome longo toda vez que alguém usar esse caractere? Ou então ter de ouvir uma linha de nomes de rostos ligeiramente diferentes porque alguém resolveu mandar quatro ou cinco emojis no email? Se existem pessoas com deficiências visuais na sua equipe, talvez seja bom dar uma segurada nas figuras.

Um guia de boas práticas 😎📚

Mesmo com prós e contras, o jeito é aprender a conviver com eles e usá-los da melhor maneira possível. Se você deve ou não colocar um emoji na sua mensagem vai depender do contexto – e é do contexto de tudo envolvido. Você precisa ser capaz de reconhecer a situação, seu relacionamento com os receptores e o significado dos emojis.

Pensando nisso, aqui vão algumas dicas de boas práticas para o uso de emojis no ambiente de trabalho:

Pense no contexto

O emoji correto pode potencializar uma mensagem. O emoji errado vai deixar tudo pior. Um estudo mostrou que, em comunicações complexas, emojis negativos tendem a aumentar emoções negativas, enquanto emojis positivos têm um efeito positivo. Esteja bem ciente da situação em que você está. É uma mensagem séria? É um assunto sensível? Um contato inicial? Talvez seja melhor deixar os emojis de lado.

Pense no receptor

Antes de enviar, pare e pense: meu receptor vai entender o que esse emoji quer dizer? Se a resposta for “não”, não mande. Assim como quando você não tem certeza de como se escreve uma palavra você troca ela por outra, não envie um emoji se você acha que ele pode ser confuso. Diferentes gerações e culturas atribuem diferentes significados a diferentes emojis. Então, se você sente que há essa discrepância, é melhor não arriscar ser mal interpretado.

Não use emojis com pessoas que você não conhece muito bem. Se for conversar com seu chefe direto ou alguém superior, tenha cuidado; eles podem achar os emojis desrespeitosos se esperam um grau alto de formalidade na troca. Se você não tem um relacionamento próximo com alguém, é melhor evitar algo que possa afastá-lo.

Vá com as outras

Chegou numa empresa ou setor agora e não sabe se emojis estão liberados? Espere para imitar seus colegas. Se a cultura da empresa é mais informal e despojada, isso vai logo ficar evidente e você saberá se pode mandar suas carinhas amarelas no grupo. Se a sua relação com os outros colaboradores for boa, eles provavelmente vão considerar os emojis uma interação positiva. Enquanto isso não estiver muito claro, siga o ditado: “é melhor prevenir do que remediar”.

Não exagere

Use emojis com moderação. Eles devem acompanhar sua mensagem, não podem ter o papel principal. Uma única carinha sorridente bem colocada é muito mais eficiente do que ter um emoji ao final de cada frase.

Clara e concisa

É assim que deve ser sua comunicação profissional. Se, por qualquer motivo, você acha que um emoji vai afastar sua mensagem dessa descrição, então não use. Pessoalidade é uma coisa boa, mas ela não pode ficar na frente do seu objetivo de comunicar algo.

Cada ano que passa são adicionados mais e mais emojis. No mundo majoritariamente digital em que vivemos hoje, eles são uma certeza inevitável. Realmente vieram para ficar. Os emojis se tornaram uma parte essencial da comunicação na internet. Conforme o ambiente profissional também se mescla com o digital, eles também ganham um espaço no escritório. Como toda boa ferramenta linguística, ela pode ser usada de forma eficaz para gerar muitos benefícios – e, cá entre nós, essas carinhas fofas trazem um pouco de felicidade para o dia de trabalho ✨☺️.

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