Empresas brasileiras preferem boletos a Pix na hora de efetuar pagamentos
Pesquisa revela que, entre 2023 e 2025, método de pagamento movimentou R$ 2,4 trilhões em valor financeiro e é o mais utilizado em transações B2B.
O Pix pode ser o queridinho entre consumidores brasileiros, mas quando se trata de transações B2B – ou seja, entre empresas – o protagonismo é do boleto. Ao menos é o que revela uma pesquisa inédita da Qive, plataforma de automação de rotinas financeiras.
A partir da análise de mais de 315 milhões de notas fiscais eletrônicas, o Panorama do Contas a Pagar 2026 revela que, entre 2023 e 2025, o boleto movimentou R$ 2,4 trilhões em valor financeiro, com 224,3 milhões de notas fiscais liquidadas, sendo o principal meio de pagamento utilizado nos 12 principais segmentos econômicos: Varejo, Indústria, Infraestrutura, Serviços, Energia, Agronegócio, Saúde e Farmacêutico, Tecnologia, Setor Público, Educação, Entretenimento e Mídia, e Outros. Somente no setor de Varejo, por exemplo, o boleto representou 67,8% do valor financeiro das transações em 2025.
De acordo com o estudo, a modalidade de pagamento sustenta o dia a dia das operações por ser um elo entre segurança e eficiência: ele entrega rastreabilidade, automação e confiança operacional como nenhum outro método é capaz. Entretanto, uma transformação nas transações entre empresas está em curso e outros meios, aos poucos, conquistam popularidade.
“A dinâmica dos pagamentos B2B no Brasil é uma tapeçaria complexa, tecida com fios de inovação digital e de tradições analógicas. A coexistência entre boleto, Pix, transferências, cheques e até vales corporativos não reflete atraso, mas sim uma adaptação às necessidades de cada segmento”, analisa Isis Abbud, co-CEO e Cofundadora da Qive.
Transferências bancárias ganham espaço
Ainda segundo o Panorama, há um avanço consistente das transferências bancárias e carteiras digitais. O share financeiro de transferências predomina em setores contratuais – serviços (27,9%), energia (27,1%) e setor público (17,2%) –, com uma movimentação de R$ 374,9 bilhões em 14,1 milhões de notas no período analisado, o que coloca o método de pagamento no segundo lugar em participação no valor financeiro B2B.
Pix cresce, mas com limitações
Entre 2023 e 2025, o uso do Pix passou de 0,8% para 1,6%, mas sua participação no valor financeiro total segue inferior a 0,5%. Sua adoção se concentra em pagamentos rápidos e de baixo valor, sobretudo nos segmentos de Varejo e Serviços.
Para a Qive, entre os potenciais fatores que explicam o avanço tímido do Pix no meio B2B estão:
- Conciliação, controle: apesar de instantâneo, o Pix não é fácil de rastrear em grandes operações, ao contrário dos boletos;
- Políticas de aprovação: empresas com maior governança financeira preferem métodos que permitam etapas adicionais de validação;
- Regulação: setores como os Energia, Público e Saúde seguem restrições institucionais para o uso de métodos fora do sistema bancário tradicional;
- Limites de escopo: dada sua restrição ao território nacional, o Pix não atende empresas com fornecedores estrangeiros, o que reforça a dependência de mecanismos como transferências bancárias, cartões ou operações de câmbio formal.
Todavia, o estudo indica um potencial de crescimento no uso do método por pequenas e médias empresas a partir da expansão das modalidades de Pix Automático e Agendado e da evolução no Open Finance.
“Os dados mostram que a digitalização avança, mas no universo B2B a mudança é gradual e estratégica”, diz Christian de Cico, co-CEO e cofundador da Qive. “As empresas não substituem o boleto da noite para o dia porque ele cumpre funções críticas de conformidade e integração. O crescimento de transferências, depósitos e Pix indica que o futuro dos pagamentos será cada vez mais híbrido, combinando eficiência digital com segurança e previsibilidade operacional.”





