ESG vira palco de batalha política nos EUA
Republicanos querem restringir o uso de critérios sociais e ambientais na hora de investir, sob o pretexto de que são “de esquerda” demais. Democratas, por sua vez, adotaram de vez a filosofia de investimentos queridinha de Wall Street.
A filosofia de investimento ESG é comum em Wall Street, mas virou o novo palco da polarização política em Washington. Os republicanos, à direita, atacam a sigla e buscam restringi-la legalmente. Ao mesmo tempo, os democratas abraçaram a pauta. Virou Fla-Flu.
A prática do ESG é analisar empresas e investimentos para além dos lucros e ganhos financeiros, focando nos impactos em três frentes: ambiental, social e de governança corporativa. Virou quase norma do mundo financeiro desde 2020, quando a BlackRock – maior gestora de ativos do mundo – passou a adotá-la.
Só que os republicanos entendem a sigla como uma preocupação com pautas que eles consideram “de esquerda” ou “progressista” demais. Entre os tópicos que acabam caindo no guarda-chuva do ESG, os que mais desagradam os republicanos são os ligados à diversidade e às mudanças climáticas. Também afirmam que a sigla é uma ideologia que machuca setores importantes da economia americana, como o de petróleo.
Não é só falatório. Vários tesoureiros estaduais republicanos têm retirado bilhões de dólares de fundos como a BlackRock, e pelo menos sete estados já passaram leis limitando o uso do ESG nas decisões que envolvem dinheiro público. Na Flórida, por exemplo, fundos de aposentadoria só podem usar critérios estritamente financeiros para aplicar a grana dos cidadãos – banindo, na prática, o ESG. O governador do estado, Ron DeSantis, é apontado como um forte nome republicano para a eleição presidencial de 2024.
A batalha escalou para a esfera federal. Uma norma do governo democrata incentiva que gestores de fundos de aposentadoria considerem o ESG para aplicar o investimento dos aposentados americanos. Agora, os republicanos votaram para reverter a lei. O presidente Biden não deixou quieto – e, pela primeira vez desde que assumiu em 2020, usou o poder de veto para derrubar a medida dos opositores.
Defensores do ESG dizem que considerar fatores sociais, ambientais e de governança na hora de investir não é necessariamente uma medida altruística – seria um tipo de avaliação de risco, porque empresas que não levam em conta esses temas tendem a ficar para trás. Ao mesmo tempo, críticos lembram que muitas companhias fingem se adequar aos critérios só para não sair mal na fita – são os casos de “greenwashing” – e que a regra acaba virando vazia, para inglês ver.