71% dos CEOs de instituições financeiras saem da empresa sem deixar sucessores

Estudo da consultoria Russell Reynolds mostra que, entre 2018 e 2023, apenas 7% das movimentações ocorreram por meio de um processo de sucessão de longo prazo.

Por Sofia Kercher
27 ago 2024, 17h00
homem curzando os dedos
 (g-stockstudio/Thinkstock)
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Seja por demissão, reformas na empresa ou por outras oportunidades que surgiram ao longo do caminho, 222 CEOs saíram das instituições financeiras que trabalhavam entre 2018 e 2023. Desses, 158 deles pularam o barco sem qualquer planejamento prévio de sucessão – 71%.

É isso que mostra um novo estudo feito pela consultoria Russell Reynolds Associates. Conforme mostra o levantamento, apenas 7% das movimentações rolaram por meio de um processo planejado no longo prazo. Esse, inclusive, foi o principal desafio destacado pelas instituições financeiras em relação à liderança. 

Crise dentro e fora

É uma somatória de fatores. As instabilidades na economia e política mundial fizeram com que o papel de CEO se tornasse mais complexo do que nunca – ao mesmo tempo, criaram uma geração de executivos com conhecimentos específicos em determinadas áreas, mas pouco preparados para assumir o cargo de diretor executivo.

É isso que argumenta Fernando Machado, sócio-diretor da Russell Reynolds. Segundo o executivo, o mercado atual exige uma maior presença pública do líder sobre questões como conduta ética, posicionamento político e remuneração, o que aumenta o escrutínio público. Esse movimento, que pode afetar (e, em casos mais graves, inviabilizar) a carreira de qualquer profissional, traz menos estabilidade à função. 

Além disso, com os órgãos reguladores e as bolsas estabelecendo políticas e diretrizes acerca da sucessão de CEOs, o assunto tornou-se mais complexo. Em Nova York, por exemplo, a bolsa estipulou que “o planejamento da sucessão deve incluir políticas e princípios para a seleção do CEO e avaliação do desempenho, bem como políticas relativas à sucessão em caso de emergência”. 

No Reino Unido, por sua vez, “as empresas devem garantir que existem planos de sucessão adequados de todo o Conselho e Executivos para manter a governança, gestão de risco e controles fortes no caso de haver mudanças no efetivo de pessoal”. Complexo.

Por fim, o profissional cita que o envelhecimento da população, especialmente nas economias desenvolvidas, também reflete no cargo dentro do setor financeiro. Vários países estão vendo seus líderes se aposentando sem bons nomes para assumir a cadeira.

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“Mais do que nunca, a sucessão do CEO é um movimento das empresas com impacto significativo  em todos os acionistas. É um processo de alto risco que está ainda mais desafiador, com  poucos candidatos qualificados e poucos conselhos priorizando a sucessão”, argumenta.

Despreparo crônico

A decisão da sucessão do CEO pode ser a mais importante que instituições financeiras podem tomar. Entretanto, a consultoria mostra que a maioria delas não a prioriza, inicia o processo tarde demais e não tem clareza sobre as melhores práticas. Para muitas delas, a saída do principal executivo é tratada como outra qualquer – e não como um corpo agora sem cabeça.

Outro indicador de liderança, também medido pela Russell Reynolds, mostra que apenas 14% dos conselhos administrativos afirmou se sentir confiante dos planos de sucessão existentes na empresa, e 30% já possuem possíveis candidatos a CEO. Em contrapartida, 20% sequer conversaram sobre o assunto – e 39% não acreditam que tenham um grupo interno forte e diversificado de candidatos à sucessão.

Mais do que nunca, a sucessão do CEO é um movimento das empresas com impacto significativo  em todos os acionistas. É um processo de alto risco que está ainda mais desafiador, com  poucos candidatos qualificados e poucos conselhos priorizando a sucessão.

Fernando Machado, sócio-diretor da Russell Reynolds

Esses dados são de 2023. Voltando à pesquisa inicial, que mede os últimos cinco anos, a consultoria percebeu que a maior parte dos CEOs ficam entre 5 a 8 anos ocupando o cargo. Por inferência, os especialistas da casa assumem que veremos um aumento nas saídas nesse ano e no próximo – o que pede estratégias proativas e inteligentes de sucessão. Vamos a elas.

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Como fazer um plano de sucessão

Segundo a Russell Reynolds, os seguintes passos são cruciais:

Planeje cuidadosamente

É necessário estabelecer prazos, funções e responsabilidades de modo claro. Cada empresa deve ter um conjunto de critérios personalizados, que contemplem as necessidades de hoje e de amanhã.

Além disso, é crucial estar em contato com o RH para elaborar o processo de triagem dentro e fora da empresa, justamente para imprimir nele esses critérios. Também é importante o estabelecimento de um plano de emergência, caso as coisas não saiam como o esperado.

Mantenha uma pista dupla

Refere-se aos candidatos internos e externos. Apesar do primeiro grupo geralmente ser priorizado, a Russell recomenda que profissionais de fora não sejam descartados. 

“Embora os internos sejam mais fortes em termos de conhecimento especializado do setor e adequação à cultura, os externos podem oferecer diferentes conjuntos de habilidades e uma nova perspectiva”, esclarece na pesquisa.

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Foco no desenvolvimento

Treinar o funcionário não é suficiente. Isso é verdade em qualquer cargo – especialmente no topo da pirâmide.

Para a consultoria, o desenvolvimento desse profissional precisa ser personalizado, e específico com requisitos únicos não só para o papel de CEO, mas para o ecossistema em que ele irá operar.

Comece cedo

Mais óbvio, mas não menos importante: nunca é cedo demais para planejar uma sucessão. 

“Não se trata apenas de encontrar um único líder – trata-se de estabelecer diretrizes, processos, pesquisa, formação, orientação e monitorização que lhe proporcionarão um fluxo de talentos sustentável nos próximos anos”, orienta o relatório.

Tenha consideração pelo titular

Nada de alienar o CEO atual. Na hora de montar um perfil ideal para o próximo líder, tente fazê-lo sem parecer insatisfeito com aquilo que tem. Se não, você corre o risco de perder o profissional muito antes – e seu plano robusto de sucessão irá por água abaixo.

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Alinhe as partes interessadas

Quem seriam elas: o conselho administrativo, os líderes de RH e, claro, o CEO atual. É importante que todos se sintam incluídos, e que haja confiança em todas as partes. Só assim será possível planejar e avaliar a orientação dos candidatos de modo satisfatório.

Crie um perfil de função voltado para o futuro

“O CEO do futuro será diferente do CEO do passado”. Criar um perfil que considere as características de liderança necessárias para o futuro, sem anular aquilo que funcionou no passado, é crucial.

Gerencie a transição com cuidado

No mais, só resta lembrar que a sucessão não termina com o anúncio e nomeação do novo CEO. É necessário continuar o processo até que o novo líder demonstre que consegue caminhar com as próprias pernas. A paciência e cautela são ingredientes fundamentais para seu sucesso – e, consequentemente, da empresa também.

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