De líder global da Meta à executiva da Universal: Aprendizados da história de transição de Camila Rocca
À Você S/A, Rocca dá dicas para mulheres maduras que buscam uma transição de carreira, baseadas em sua própria experiência. Confira.

o descer as escadas do ônibus, cujo interior havia sido misericordiosamente mantido aos 18 °C, a voz de Cássia Eller trespassa minha mente: se não havia chegado ainda, o segundo sol definitivamente estava a caminho de Orlando. Ele chegaria ao meio-dia, olharia no fundo das lentes de meu óculos escuros e diria: arrependei-vos de seus pecados (e da escolha de usar calça jeans preta).
A recepção escaldante, que acolhe moradores e visitantes em igual dose de furor e impiedade, não ofuscaram o entusiasmo de Camila Rocca quando me aproximei. Estávamos do lado de fora do parque de diversão da Universal Studios, local que Rocca tem a alegria de chamar de firma desde março deste ano. Por lá, a executiva exerce o papel de Gerente Sênior de Programas e Projetos, cuidando da operação das campanhas de comunicação da marca (um grande volume de projetos distribuídas na TV, outdoors, pontos de ônibus, sinais de fumaça e derivados).
Hoje, contudo, ela veio ao parque à paisana. Melhor: usando outro chapéu profissional, de mentora e palestrante. À convite de Tatiana Marzullo, jornalista e fundadora do programa de mentoria feminina Salto Alto (a história completa do projeto de Tati, você encontra aqui), Camila veio acompanhar o dia de parque das participantes e contar um pouco de sua história de carreira.
É justamente por isso que fui abordá-la. Camila tem uma carreira fora do Brasil desde 2017, e saiu de um cargo de líder global de marketing de produtos na Meta, onde ficou durante quase seis anos, para a vida de empreendedora e, posteriormente, para sua posição na Universal. Queria bater um papo sobre as ferramentas necessárias para fazer uma transição de carreira bem-sucedida – movimento que 7 a cada 10 mulheres maduras (leia-se: 42 a 83 anos) estão realizando no Brasil.
À frente do globo da Universal, cercadas por uma quantidade pouco ortodoxa de líderes de torcida mirins e brasileiros (Flórida, o estado mais ao Norte do país) a executiva conta para a VC S/A que o primeiro passo para qualquer transição de carreira é conhecer bem onde você gostaria de ir (nota da jornalista: aos que leram Alice no País das Maravilhas, relembro as aspas do gato de Cheshire à personagem. “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”).
Foi esse movimento certeiro que culminou no emprego atual de Camila. Quando a profissional decidiu que os valores, visão e propósito da Universal eram os que ela queria ter no currículo, ela entrou no LinkedIn e se conectou com um executivo da empresa. Um café de relacionamento, uma mensagem e um processo seletivo depois, e Rocca conseguiu colher os frutos de sua assertividade.
Camila tem uma carreira fora do Brasil desde 2017.
“Eu conversei com pessoas da empresa, fui entender como elas se sentiam, como era a cultura, porque esses eram pontos essenciais pra mim”, narra. Para quem sabe onde quer chegar, uma das etapas do caminho é essa.
Falando em pontos essenciais, ela também enaltece a importância de conhecer suas fortalezas. Sabendo seus pontos fortes – aqueles que você exerce com excelência – fica mais fácil identificar empresas e áreas que trarão uma realização profissional maior.

A profissional explica que a saída da Meta, que veio após a primeira leva de layoffs da empresa em 2023, ela teve que recalcular sua rota profissional. Isso impulsionou a busca por conexão (falamos sobre a importância de publicações no bom e velho LinkedIn aqui). Curiosamente, nesse momento que ela descreve como “sem crachá”, Camila recebeu incontáveis oportunidades de carreira: recebeu um convite para ser júri global do Effie Awards, prêmio que reconhece campanhas de marketing e publicidade de destaque; deu inúmeras entrevistas, como essa; fez palestras no Vale do Silício, em Nova York e na Flórida. Também abriu a &Beyond, empresa de marketing estratégico da qual ela continua participando ativamente enquanto mentora.
Justamente pelo que ela vivenciou nesse período, Camila bate na tecla: conhecer o seu valor é essencial para ser levado à sério em qualquer transição. É perceptível pela forma descontraída com que ela conta sobre sua história, entre fila de brinquedo e outra. “O importante é ser intencional. Procure suas fortalezas, empresas e setores que se alinham a isso e vá atrás do que você decidir. Esse é um meio de colocar em prática o que eu acabei aprendendo pela vida!”, finaliza. Afinal, a pior transição de carreira é aquela que não é feita. Se tem algo que esta singela repórter aprendeu após andar na montanha-russa da múmia e não vir a óbito (contra tudo e contra todos), é que, para além do medo, o horizonte é promissor. Salto dado, inclusive, com incentivo de Camila. Valeu!