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Luciana Camargo

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Advisor para BTS, mentora e coach de carreira, pesquisadora do Observatório do Futuro do Trabalho.

Às vésperas da COP, o que líderes quilombolas do Cerrado podem nos ensinar

Iniciativas enraizadas na cultura popular mostram que ESG também se constrói fora dos escritórios.

Por Luciana Camargo
Atualizado em 13 out 2025, 14h29 - Publicado em 12 out 2025, 08h00
Lideranças quilombolas.
 (Divulgação/Reprodução)
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Em 2021, o Quilombo Kalunga foi reconhecido pela ONU como o primeiro Território e Área Conservada por Comunidades Indígenas e Locais (Ticca) do Brasil. O título internacional é concedido a regiões que mantêm a conservação da natureza – o que ali acontece há 300 anos. Em 2025, quatro anos depois, um grupo de sete mulheres, do qual fiz parte, executivas e consultoras interessadas no campo ESG, desembarcou nesse pedaço de sertão no coração da Chapada dos Veadeiros para uma experiência transformadora – inclusive para a própria compreensão do que chamamos ESG.

Muitas áreas quilombolas reconhecidas ao longo das últimas décadas se abriram para receber visitantes interessados em conhecer sua cultura e seu modo de vida, inclusive como forma de garantir renda. O Kalunga fez isso apenas recentemente, o que tornou a experiência ainda mais genuína para nosso grupo, que foi conduzido pela  Chapadaladob, especializada em turismo de base comunitária.

Para entender o que vivemos lá, precisamos conhecer um pouco mais do contexto quilombola. No sertão do Kalunga, vivem comunidades remanescentes de povos escravizados, que só conheceram energia elétrica há poucos anos, praticam a agricultura de subsistência… vivem sem nenhum dos confortos da vida urbana. São, principalmente, mestres na arte de extrair da natureza apenas o necessário e preservar o ambiente como princípio de vida. É uma boa vida, plena de sentido e propósito. Sustentável, na melhor acepção do termo.

Mesmo dependendo integralmente do território para alimentação, água, moradia e renda, os Kalunga mantêm cerca de 83% da vegetação nativa preservada em seu território – índice impressionante quando comparado à rápida destruição do bioma do Cerrado, do qual resta apenas 48% no Brasil.

Não é possível falar do Cerrado sem falar do fogo. O fogo ali exerce um papel ecológico essencial, pois muitas espécies estão adaptadas a ele e dependem desse processo para regeneração e manutenção do bioma. Queimadas naturais ou controladas ajudam a reciclar nutrientes, controlar a vegetação e preservar a paisagem aberta característica. No entanto, quando o fogo ocorre de forma frequente ou descontrolada, pode provocar perda de biodiversidade, degradação do solo e aumento das emissões de gases de efeito estufa. O equilíbrio está em respeitar sua dinâmica natural e evitar os excessos provocados pela ação humana.

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Lideranças quilombolas.
As comunidades quilombolas são mestres na arte de extrair da natureza apenas o necessário e preservar o ambiente como princípio de vida. (Divulgação/Reprodução)

Líderes que inspiram nos quilombos

Foi nesse cenário de delicado equilíbrio, e também grave risco ambiental, que conheci lideranças quilombolas inspiradoras. Pessoas que mobilizam centenas de famílias para recuperar o solo, organizam cozinhas comunitárias com alimentos da agricultura de subsistência, cuidam das escolas, da saúde, dos animais e das roças. Conheci ativistas inspiradores, como Claudomiro Cortés, que há anos coleta e utiliza sementes nativas para restaurar áreas degradadas. Ele lidera o Cerrado de Pé, iniciativa que mobiliza 240 famílias na colheita de sementes para promover a regeneração do bioma.

No Vão do Moleque, navegamos pelo Rio Paranã e vivemos a incrível experiência de nadar com botos. Foi nesse território que aprendi como a rica cultura afro-brasileira, mantida e transmitida por gerações, proporciona uma vida de profundo respeito à natureza e forma líderes inspiradores, como Martinho, presidente da Associação do Vão do Moleque, que articula ações comunitárias com sabedoria e firmeza, e sua esposa Santina, mulher forte e estudiosa, que produz alimentos do cerrado e atende o turismo de base comunitária com generosidade – contribuindo para o desenvolvimento local de forma sustentável.

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Lideranças quilombolas.
Martinho, presidente da Associação do Vão do Moleque. (Divulgação/Reprodução)

Essa realidade contrasta fortemente com o restante do bioma e reforça a importância dos territórios legalmente protegidos como pilares da conservação ambiental e da soberania comunitária. Cada vez mais é consenso entre os cientistas que a busca de soluções para a crise climática passa por olhar para dentro e reconhecer populações que já incorporaram os princípios da sustentabilidade em sua cultura – como fazem as comunidades tradicionais.

O “E” de ESG

Em junho de 2024, na minha primeira experiência, compartilhei aprendizados com comunidades ribeirinhas da Amazônia, em um artigo neste espaço. Agora, com a aproximação da COP30, senti que era um bom momento para dividir uma experiência recente: a oportunidade de conhecer o Cerrado, o segundo maior bioma do Brasil e um dos mais ameaçados do planeta.

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O Cerrado e a Amazônia pulsam. Estão sendo degradados pela ação humana, mas também são habitados por pessoas que, acima de tudo, amam a natureza e nos ensinam sobre preservação e liderança comunitária. Os quilombolas são o coração desses biomas. Há nessas comunidades tradicionais toda uma escola de ESG: lideranças que atuam a serviço do coletivo, entendimento do ambiente não como fonte de matéria-prima, mas como ponto de equilíbrio para a vida, e, especialmente, uma ideia de sustentabilidade da qual ainda estamos muito distantes. Essa jornada me ensinou que o “E” de ESG não é apenas sobre métricas ambientais. É sobre gente. Sobre histórias. Sobre biomas que respiram através de seus guardiões. Os quilombolas do cerrado são exemplo vivo de liderança comunitária, sustentabilidade prática e sabedoria ancestral.

Que a COP30 nos ajude a escutar e valorizar essas vozes.

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