O e-mail do Elon Musk é uma aula sobre como não se comunicar
Refletir sobre a forma e o conteúdo daquilo que comunicamos é cada vez mais importante nesta era de incertezas, mudanças constantes e excesso de informação
Quem trabalha no Twitter deve decidir entre trabalhar longas horas em um ritmo intenso ou ser dispensado da empresa. Esse é o resumo de um e-mail enviado pelo bilionário Elon Musk na manhã do dia 16 de novembro, com um prazo de resposta até às cinco horas da tarde do dia 17 — a mensagem avisava que aqueles que não clicarem em um link confirmando o compromisso com a nova era mais “hardcore” da empresa seriam demitidos e receberiam três meses de indenização.
A mensagem do empreendedor que comprou o Twitter este ano ia direto ao ponto, sem rodeios. O objetivo era claro e o prazo, específico.
Mas será que este é um bom exemplo de comunicação transparente?
Fiquei pensando sobre isso ao ler a notícia e meu convite é que você faça o mesmo para entender o que, de fato, significa a tão falada “transparência radical”. Para que você entenda também se o que tem praticado — ou o que as pessoas ao seu redor têm feito — é comunicar-se de forma transparente ou se expressar de maneira brutal.
Na minha opinião, transparência não exclui sensibilidade. Você pode — e deve — ser objetivo, claro e firme na hora de passar uma mensagem difícil, mas é possível fazer isso e demonstrar empatia ao mesmo tempo.
Para isso, é importante lembrar que a comunicação é diversa e que existem diferentes formas de dizer a mesma coisa. Não é só a mensagem que importa, mas a maneira que você a transmite. Transparência também não é despejar um monte de coisa em alguém e simplesmente ir embora. Quando só um fala e o outro escuta, isso não é um diálogo, e, sim, um monólogo.
Se você quer colocar a comunicação transparente em prática, preciso dizer que ela só vai funcionar se você se abrir para verdadeiramente escutar o outro. Isso porque comunicar-se de maneira aberta e honesta pressupõe colocar-se à disposição para tirar dúvidas, acolher os sentimentos das pessoas com relação a mensagem transmitida e até lidar com descontentamentos. Pois é, nem sempre a transparência é agradável e prazerosa.
Apesar disso, acredito que ela é um caminho para relações mais humanas, verdadeiras, saudáveis e que inspiram confiança. Só que isso requer prática, paciência e constância.
Não adianta achar que basta saber o recado que quer ou precisa passar. Uma boa comunicação transparente precisa de planejamento!
E isso inclui:
Avaliar se a mesma forma vale para todos os grupos de pessoas que receberão a mensagem. Às vezes, é necessário adaptar o jeito que você irá se comunicar.
Analisar quais informações podem ser compartilhadas e para quais pessoas. Afinal, algumas coisas, por questões de compliance, são sigilosas e é necessário alinhar com a liderança o que pode ou não ser comunicado.
Considerar as consequências da sua abordagem. Um estudo do professor e pesquisador Ethan Bernstein, da Harvard Business School, descobriu que, dependendo da forma que a transparência é praticada, ela pode causar um efeito não intencional e fazer com que as pessoas se sintam vulneráveis e expostas.
Tudo isso pode parecer trabalhoso — e eu não vou mentir, demanda mesmo energia e dedicação. Porém, os resultados de uma comunicação verdadeiramente transparente são recompensadores tanto para a empresa quanto para as pessoas.
Já quando a comunicação é só direta e brutal, o que se costuma ver é desengajamento, frustração, medo e insegurança. Talvez, estas sejam algumas palavras que descrevem o sentimento de quem recebeu o e-mail de Musk…