Quando uma mulher deve se candidatar para uma vaga ou promoção?
Pesquisas mostram que mulheres tendem a se sentir menos preparadas do que os homens para se candidatar à vaga dos sonhos. Veja como enfrentar esse medo.
Praticamente todo mundo já sentiu aquele frio na barriga em um processo seletivo. Você fica sabendo de uma vaga, lê a descrição, acha a proposta muito interessante tanto financeiramente quanto em relação ao desafio, se imagina trabalhando naquele lugar, fica sonhando com a oportunidade e… Bem, o próximo passo depende do gênero.
Na verdade, não do “gênero” exatamente, mas do comportamento normalmente associado a cada grupo.
É que, se de um lado, os homens tendem a se candidatar para as vagas, mesmo para aquelas que não têm o perfil, do outro, as mulheres são mais, digamos, “comedidas” nesse sentido. E antes que você pense que a diferença de postura tem a ver com “ambição” — ou a falta dela —, já adianto que a questão não é essa.
O que diversas pesquisas mostram é que múltiplos fatores pesam na balança, como a falta de representatividade feminina em determinadas áreas, o que, de alguma forma, passa uma mensagem de que ali não é “lugar de mulher”.
Pesa também a questão do cuidado com a casa, as crianças, as pessoas mais velhas, enfim, com o lar — algo que normalmente é entendido como uma responsabilidade feminina. Não à toa, um levantamento do Boston Consulting Group em parceria com o Women’s Forum mostrou que 60% das entrevistadas disseram já ter declinado uma oferta de trabalho em prol da família, comparado com a incidência de 45% nos homens.
Nessa lista, também entra o fato de que muitas profissionais não se sentem prontas para galgar outras posições. Enquanto os homens se inscrevem em processos seletivos sem cumprir com os critérios, estudos mostram que elas costumam se candidatar só quando preenchem todos — ou a maioria — dos requisitos.
Inclusive, um dos resultados da pesquisa “Carreira dos Sonhos” revelou que as mulheres sempre se sentem menos preparadas do que os homens para entrar na empresa que desejam. E isso acontece desde quem está no começo da carreira até quem já ocupa um alto cargo.
Diante de todos esses dados, a minha resposta para a pergunta do título é: a mulher deve se candidatar para uma vaga ou uma promoção sempre que ela quiser e se identificar com o perfil da proposta. Ponto.
Se não existem mulheres naquela posição que você almeja, pense que você pode ser a primeira a estar lá e abrir caminho para as outras.
Se você se sente sobrecarregada com os cuidados da família, tente conversar com alguém sobre isso e dividir esse peso.
Se você acha que não está pronta, busque desenvolver as competências que faltam, mas não espere cumprir 100% dos requisitos para tentar novas oportunidades.
Eu sei, não é tão simples assim… A responsabilidade, claro, não é só das mulheres, mas das empresas criarem espaço para que elas se sintam encorajadas nas suas carreiras e práticas que apoiem o crescimento delas. Políticas públicas e a transformação da mentalidade da sociedade também são coisas fundamentais para mudar tal realidade.
Ainda assim, acredito ser importante nós, mulheres, questionarmos algumas crenças, situações e realidades. Questionar também a nós mesmas e nos forçar a passar por cima de alguns desconfortos.
Se você, mulher, não se sente pronta para ocupar determinada vaga, avalie se essa percepção condiz com a realidade ou se essa paralisação é só resultado daquele sentimento de insegurança batendo na porta. Muitas profissionais acabam perdendo grandes oportunidades por acharem que não são boas o suficiente, quando, na verdade, têm um currículo que corresponde às exigências do processo seletivo.
Então, tente se cobrar menos e reflita sobre o que, de fato, está impedindo que você dê chance para novas oportunidades. Por que você precisa ser perfeita em todos os requisitos? Será que, de fato, você não tem as competências desejadas? Por que você acha que seu currículo não é bom o suficiente?
Mais do que isso, acho que vale inverter a lógica e pensar que, se você ainda não se sente 100% pronta para algo, por que não encarar essa questão como uma oportunidade de desenvolvimento? Como eu já expliquei, em vez de descartar a possibilidade de tentar uma vaga ou promoção, busque se desenvolver e mostre na entrevista que você já está nesse caminho, correndo atrás das habilidades que a tornariam uma profissional ainda melhor.
Quanto ao peso das responsabilidades com a família, sei o quanto essa questão é delicada, ainda mais quando somos mães. Uma das coisas que me ajudou bastante foi aprender a trabalhar aquele sentimento de “dívida”, como se, por ter uma carreira, eu estivesse sempre em falta com os meus filhos — e até com a sociedade.
Estou falando daquela culpa que vem quando alguém pergunta se você não tem “dó” de deixar sua criança em casa para voltar a trabalhar ou quando você precisa sair mais cedo do escritório para buscar na escolinha. Parece que estamos sempre devendo para um dos lados e isso nos consome. Nos sentimos inseguras, menos competentes, menos capazes…
Mas, veja, você não deve levar o mundo nas costas. Tente tirar esse peso dos seus ombros e peça ajuda para aliviar essa carga.
Sei que, infelizmente, nem todas as mulheres contam com uma rede de apoio e que isso dificulta muito as coisas, por isso minha mensagem também é para que nós, como mulheres, possamos nos colocar à disposição das outras. Estender a mão no trabalho e fora dele, oferecer um ombro amigo e ser também aquela voz de encorajamento. Alguém que simplesmente mostra que acredita na outra e no seu potencial.
Pode parecer pouco, mas em um mundo cheio de rótulos, estereótipos e cobranças pela perfeição feminina, as mulheres precisam de uma mensagem que vá no sentido oposto. Uma mensagem de que, para se candidatar a uma nova oportunidade, ela “só” precisa ir lá e fazer.