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‘Aumentamos em 30 vezes o número de usuários no país’, diz executivo-chefe da Zoom no Brasil

A companhia de videoconferências que manteve o mundo girando nos períodos de isolamento desembarcou no Brasil há pouco mais de um ano. Alfredo Sestini Neto conta quais são os planos dela para o pós-pandemia.

Por Juliana Américo
14 jan 2022, 05h55
lfredo Sestini Neto, executivo-chefe da empresa no país.
 (Celso Doni/VOCÊ S/A)
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Fundada em 2011, a americana Zoom Video Communications estava tranquila com o Zoom, sua ferramenta de videoconferência para empresas. Até que, em março de 2020, a pandemia atingiu o mundo. De lá para cá, o Zoom se tornou uma das principais plataformas de comunicação durante o isolamento social. Passou a ser usado para reuniões de amigos, aulas e até casamentos.

No primeiro ano da pandemia, as ações da empresa valorizaram quase 300%. Em poucos meses, ela viu o seu número de usuários diários saltar de 10 milhões para 300 milhões. A companhia, então, resolveu ampliar sua operação na América Latina. Em agosto de 2020, abriu uma unidade no Brasil – depois viriam escritórios no México, na Argentina e na Colômbia.

Quem assumiu o desafio de abrir as portas brasileiras foi o executivo Alfredo Sestini Neto. O paulistano, de 44 anos, passou pela IBM e pela Oracle. Nesta última, atuou por 13 anos e foi responsável pela área de marketing da América Latina.

Atualmente, a equipe da Zoom no país é pequena: são 20 funcionários que trabalham de forma remota. Mas Alfredo já está em busca de um escritório em São Paulo para ampliar a equipe em mais 40 pessoas. Aqui, o executivo fala sobre os desafios da companhia e os investimentos dela no país.

Por que a Zoom escolheu o Brasil?

Essa já era uma estratégia de crescimento internacional da companhia, tanto que foi o primeiro país da América Latina onde a gente colocou um data center. Normalmente, as empresas americanas começam com uma base no México para atender toda a América Latina. Mas a gente entende que, com uma única base, demora mais para escalar o negócio. O que nós precisamos é de times locais, que conheçam a cultura, os clientes. Além disso, somos um país continental. Existem grandes empresas em todas as regiões, e a curva de adoção de novas soluções é muito rápida nas empresas brasileiras.

lfredo Sestini Neto, executivo-chefe da empresa no país.
(Celso Doni/VOCÊ S/A)

Como foi assumir o início da operação bem no meio da pandemia?

Foi muito louco. Fui o quarto funcionário da América Latina inteira. Éramos eu, dois vendedores e um engenheiro de soluções, que foi o primeiro contratado – a Zoom é uma empresa muito técnica, então, antes de a gente fazer qualquer abordagem com cliente ou chegar a uma região, tudo precisa estar funcionando tecnicamente bem sem ninguém saber.

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Tanto que o nosso data center está instalado desde 2019. E era isso, não tinha mais nada. Em 2020, éramos só nós quatro e uma vontade muito louca de fazer acontecer. Claro que também temos o suporte da matriz nos EUA. Mas decidi por não seguir o modelo tradicional das organizações. Optei por um modelo de startup mesmo, no qual a gente propõe uma ideia, faz um piloto, prototipa e executa. Deu certo? Padroniza e escala. Deu errado? Corrige e tenta de novo.

E deu certo, porque a Zoom traz cada vez mais soluções para o Brasil, então a nossa estrutura precisa se adequar toda hora. Agora, estamos vendo um lugar para montar o escritório, porque a gestão de pessoas no modo totalmente remoto é um desafio.

Durante o isolamento social, as ações da empresa dispararam. Quais são os planos da Zoom para o pós-pandemia?

Sobre as ações, a gente ainda está muito vinculado à pandemia. Quando as medidas de restrição diminuem, as ações caem. Quando aumentam, as ações sobem. As pessoas acham que a nossa empresa é só para videoconferência. Mas a verdade é que somos uma plataforma de comunicação.

Nós temos o Zoom Phone, para ligações telefônicas; tem o chat para conversas por mensagem e compartilhamento de arquivo; o Zoom Apps, que permite integrar nossa plataforma com outros sistemas – estamos investindo US$ 100 milhões para trazer mais soluções a essa área. Também lançamos, recentemente, o Zoom Events, que permite realizar eventos remotos.

Quando as pessoas perceberem que nós somos uma plataforma de comunicação unificada, que possibilita um mundo híbrido, a conversa muda. E já temos regiões que perceberam isso. Os resultados do terceiro trimestre mostram: tivemos um crescimento de 35% na receita, estamos com US$ 5,4 bilhões em caixa e o número de usuários subiu exponencialmente. Mas ainda existe esse trabalho de mostrar para o mercado que a Zoom é mais do que a pandemia.

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Em quais outras ferramentas vocês estão investindo?

A gente já tem habilitadas duas ferramentas muito interessantes de transcrição e tradução simultâneas. Então, quando você está em uma videoconferência, é possível ver na forma escrita o que está sendo dito. Ou então o usuário seleciona um idioma e escuta a tradução [a ferramenta está disponível para inglês, português, mandarim, japonês, alemão, francês, russo, espanhol e coreano].

Como está a operação no Brasil?

A gente teve uma adesão muito rápida das companhias e até das pessoas físicas. Desde agosto de 2020, aumentamos em 30 vezes o número de usuários e em 10 vezes o número de contratos. O plano é continuar investindo na região, ampliar a equipe e aumentar o data center.

Desde 2017, existe a Zoom for Healthcare para ampliar a telemedicina. Como anda essa ferramenta aqui no Brasil?

A área de saúde é uma das verticais mais importantes para a Zoom global. E é um dos pilares em que estamos investindo forte no Brasil. Quando se fala em telemedicina, logo vem a ideia de que você não precisa atravessar a cidade para fazer um primeiro atendimento ou até mesmo um retorno no médico.

Essa é uma tendência muito forte para a saúde e a gente tem ferramentas para fazer consulta online. O profissional da saúde determina as prioridades de atendimento e consegue até acionar uma ambulância para socorrer os casos graves. Mas também queremos transformar a interação das pessoas dentro de um hospital.

Hoje, se você está internado e se sente mal ou precisa de alguma coisa, você aperta um botão e o enfermeiro aparece. Agora, se eu coloco uma solução de videochamada entre os equipamentos hospitalares, você pode acionar o médico para fazer a avaliação à distância. Tem casos também em que o paciente está na UTI e não pode receber visitas, mas ele pode manter o contato com a equipe de saúde e familiares com ajuda da tecnologia. As soluções de vídeo conseguem melhorar tanto a rotina das pessoas como a dos próprios hospitais.

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A Zoom também tem investimentos para a área de educação?

Sim, a educação também é um pilar importante, principalmente aqui no Brasil. Essa foi uma área que sofreu muito na pandemia. De uma hora para outra, os professores e alunos foram para casa e não existia material didático para aula remota.

Passado esse estranhamento inicial, a gente começou a ver um movimento interessante das instituições de ensino, de querer adotar um modelo híbrido. Não estou falando das escolas de ensino básico e médio, porque as crianças não podem ter educação à distância. Elas precisam dessa convivência presencial. Mas as universidades e escolas de cursos livres, como de idiomas, estão focadas no ensino híbrido ou 100% remoto.

Temos uma parceria com a FGV para transformar as salas de aula tradicionais em híbridas. O professor e alguns alunos estão lá no presencial, enquanto outros alunos estão remotos. A tecnologia que eles estão utilizando, junto com a nossa plataforma, permite que o professor ande pela sala.

A câmera acompanha os movimentos dele, e os alunos que estão em casa conseguem ver tudo. O professor também consegue ver quais são as reações dos alunos remotos, porque tem uma tela no fundo da sala.

Você também aumenta as oportunidades. Imagina uma pessoa que quer estudar inglês para evoluir na vida, mas trabalha longe de casa. Aí chega uma quinta-feira de chuva e o aluno precisa ir para a aula, depois de um dia cansativo. Se ele tiver a opção de assistir de casa, a motivação aumenta e a qualidade do aprendizado também. É fantástico, para mim, poder garantir essa melhoria de experiência.

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Vocês enxergam no 5G uma possibilidade para ampliar a plataforma?

Sim, o 5G potencializa tudo. Ele vai melhorar a conexão com dispositivos móveis. E nós já estamos vendo alguns casos de uso de pessoas andando nas fábricas com aqueles óculos do Google conectados com o Zoom. Dá para ir até o estoque e fazer uma videochamada com algum gerente para procurar por uma peça ou listar o que está faltando.

Ou seja, você cria uma conexão em qualquer lugar. Também estamos fazendo uma parceria muito legal com o Facebook para estar no metaverso. Através dos óculos de realidade virtual, você consegue participar de uma reunião como se estivesse no presencial.

Em 2020, o Zoom teve problemas de vulnerabilidade na segurança. O que a companhia está fazendo para aumentar a proteção dos usuários?

Como o Zoom era uma solução voltada para empresas, toda companhia tinha um administrador que ia lá no site e configurava o que os usuários podiam ou não fazer. No começo da pandemia, quando todo mundo saiu usando sem olhar essas configurações, aconteceram situações graves. Teve gente que não colocou a trava de segurança na reunião e qualquer um que tivesse o link poderia entrar, por exemplo.

A primeira coisa que o Eric Yuan, o nosso CEO e fundador, fez foi paralisar todos os projetos e implementar um plano de 90 dias para melhorar o acesso e funcionalidade das ferramentas de segurança. Das soluções que a gente já tinha e cujo uso foi facilitado, estão as opções de bloquear o acesso às chamadas, configurar uma sala de espera para saber quem vai entrar, bloquear o microfone e o chat, além de limitar o compartilhamento de tela e arquivos. Outra medida foi melhorar a visão de segurança em longo prazo. A Zoom comprou a Keybase, uma startup de segurança, para criptografar todas as chamadas de vídeo e telefone.

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Como a empresa tenta se desvencilhar do termo “fadiga do Zoom”?

Quando você vira verbo, tipo “fazer um Zoom”, tem sempre um lado bom e um ruim. [Risos] O que a gente faz é um trabalho de educação sobre gestão de pessoas. É comum os nossos clientes empresariais questionarem como evitar que os funcionários fiquem conectados o dia inteiro. O que a gente orienta: se for uma reunião interna, que não precisa ver a imagem da outra pessoa, então nem abre a câmera. A plataforma tem a opção de enviar mensagens via chat, criar grupos de conversa, fazer ligações e compartilhar arquivos. Ou seja, não precisa ser tudo por vídeo.

Outra dica é ter uns dez minutos de pausa entre uma reunião e outra. Então, se a videochamada vai durar uma hora, organize-se para fazer em 50 minutos. É importante ter esse tempo de descanso para levantar da cadeira, tomar uma água. Também criamos a função de exibição imersiva. É uma ferramenta para criar cenas. Por exemplo, em vez de visualizar todo mundo como um monte de quadradinho na tela, eu posso criar um ambiente que simula uma sala de reunião e parece que as pessoas estão sentadas uma ao lado da outra.

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