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Bomba fiscal americana faz o rendimento dos Treasuries disparar

O déficit público dos EUA dobrou em um ano, e agora o governo Biden está emitindo mais dívida do que o mercado demanda, e precisa pagar juros mais altos para se financiar.

Por Bruno Carbinatto
10 nov 2023, 05h26
 (Tamires Mazzo/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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Um assunto dominou o mercado financeiro no mês de outubro: os Treasuries, títulos públicos americanos (equivalentes aos do nosso Tesouro Direto). É que o rendimento deles disparou.

Isso fica visível no título com vencimento de dez anos, que serve de referência para todos os outros. Os juros pagos ali chegaram a ultrapassar, brevemente, os 5% a.a .– um patamar não visto desde 2007. Há pouco mais de um ano, esses títulos rendiam 2,6% a.a. Desde o pico de 5%, eles deram uma sossegada, mas seguem em patamares considerados altos.

Existem vários motivos para o avanço. A justificativa mais forte é o fato de que a economia americana segue mais resiliente do que o esperado, o que mantém a inflação alimentada, e pede juros mais altos do Fed. E quando o banco central aumenta suas taxas, o rendimento dos títulos sobe junto. 

Mas economistas apontam que não é só isso: o cenário fiscal do país também tem seu peso aí.

Os EUA são um dos países mais endividados do mundo, com uma proporção dívida/PIB de mais de 120% – no Reino Unido, por exemplo, são 97%, na Alemanha 68% (no Brasil, só para constar, são 75%, muito para um país não-desenvolvido). O patamar dos EUA nesta década é algo que não se via desde 1946, quando chegou a conta da Segunda Guerra Mundial. 

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E o governo americano segue gastando aos montes. No ano fiscal que terminou em setembro, o país registrou um déficit de US$ 2 trilhões – o dobro do ano anterior. Para além dos investimentos do governo Biden, que incluem gastos com infraestrutura e programas sociais, os EUA também estão financiando dois países em guerra – Ucrânia e Israel.

O jeito é emitir cada vez mais dívida para cobrir o rombo. Só que o governo está imprimindo mais títulos do que a demanda consegue acompanhar – e o saldo disso é que ele precisa oferecer retornos cada vez maiores. Com os títulos novos pagando mais, o valor de mercado dos títulos antigos muda, de modo que eles passem a oferecer rendimentos equivalentes.  

O próprio Fed entra nessa dinâmica, diga-se, porque ele tem vendido aos bancos títulos que estão em seu poder, para tirar dinheiro de circulação – é outra forma de combater a inflação, além das altas nos juros básicos. Com isso, cresce mais ainda a oferta de títulos, pressionando as taxas ainda mais para cima. E agora, com o retorno dos títulos num patamar recorde, vale menos a pena investir em atividades produtivas. É mais seguro emprestar para o governo americano e esperar sentado. Péssimo para a economia global.  

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