Como não se envolver em corrupção, mesmo sob pressão
Empresas podem criar situações favoráveis à conduta antiética e até pressionar para que ela ocorra. Cabe ao profissional se recusar a cometer um ato ilícito
Causou surpresa a prisão de sócios e executivos de empreiteiras durante os desdobramentos da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Poucas vezes vimos no Brasil pessoas que ocupam o Olimpo das empresas sendo escoltadas por policiais diretamente para o cárcere.
Convencionou-se, no país, considerar que políticos e integrantes do governo são corruptos, enquanto executivos e empresários são honestos. A desculpa corrente é que profissionais corporativos são vítimas achacadas por agentes públicos ávidos por dinheiro.
Corruptos não existem sem corruptores e ambos são igualmente nefastos. E, o mais importante, em geral os corruptores têm muito mais poder do que os corrompidos.
Se um mercado é dominado por atos ilícitos, isso só pode ocorrer se os executivos desse ramo contribuírem para que o crime ocorra. Algumas companhias aceitam o crime em suas atividades e, pior, usam desonestidade como vantagem competitiva.
Como mostra a tese de doutorado da professora Cintia Rodrigues, da Universidade Federal de Uberlândia, defendida na Fundação Getulio Vargas de São Paulo, empresas podem atuar intencionalmente de maneira criminosa para conseguir atingir melhores resultados. Exemplos não faltam. Há companhias que se beneficiam de trabalho escravo na cadeia de produção.
Outras, ao visar ao aumento do lucro, causam desastres ambientais. Existem ainda as que conscientemente vendem produtos e serviços lesivos ao consumidor.
Embora haja todo um discurso de que empresas devem ser socialmente responsáveis, na prática a teoria é outra. Executivos, muitas vezes, percebem-se em situações em que precisam transgredir a ética pessoal para garantir o resultado.
Fraudes corporativas são parcialmente responsabilidade de pessoas que aceitam transgredir regras éticas, mas também se devem a contextos que permitem que as más práticas aconteçam. É preciso haver estruturas que coíbam a criminalidade corporativa. A prisão de executivos ajuda.
Mas também é fundamental que os profissionais não aceitem que as corporações imponham a eles uma má conduta. Num mundo em que empresas são mais ricas do que países, executivos são agentes fundamentais na construção de um mundo ético de verdade, que exista além dos relatórios corporativos. A responsabilidade empresarial precisa deixar de ser uma peça de marketing e se transformar em ações e atitudes efetivas.