Fed injeta adrenalina no mercado: alta de 2,42% para o Ibovespa
BC americano sinaliza corte de 0,75 p.p. ao longo de 2024 e leva o Ibov à melhor marca do ano: 129.465 pontos.
O Fed “manteu”, mas também surpreendeu. Os juros por lá seguem em 5,5%, como todos esperavam. Mas agora há uma novidade: a sinalização de que o BC americano deve cortar a taxa de juros em 0,75 p.p. ao longo de 2024.
Em setembro, quando tinham saído as últimas projeções desse tipo, previa-se um total de cortes mais ameno, em 0,50 p.p.
Foi mesmo uma injeção de adrenalina. Os gráficos dos S&P 500 e do Ibovespa deram uma empinada forte no momento do anúncio. E fecharam bem: 1,37% para o índice americano e vigorosos 2,42% para o brasileiro.
O Ibovespa fechou em 129.465 pontos – a máxima do ano, superando os 128.103 pontos do dia 1º de dezembro. No ano, a alta já é de 17,6% (um pouco abaixo do S&P 500, que está no maior nível em dois anos e soma 21,9% em 2023).
Das 86 ações que formam o índice, só quatro fecharam em baixa. Um dia para lavar a alma.
Tudo isso, naturalmente, antes de o BC fechar esta super quarta anunciando o corte de mais 0,50 pp na Selic, que agora vai a 11,75%. Como o que fez preço foi o Fed, vamos examinar melhor o anúncio de hoje.
O mapa astral do Fed
A previsão melhor do que a encomenda veio no “dot plot” – um gráfico trimestral em que cada dirigente com direito a voto do Fomc (o Copom deles) coloca seus pitacos para uma série de indicadores econômicos – entre os quais a taxa de juros, decidida por eles próprios.
Em setembro, a mediana das projeções apontava para juros em 5,1% ao final de 2024. No dot plot divulgado hoje, ela caiu para 4,6%. Como neste momento os juros operam numa banda entre 5,25% e 5,50%, isso sugere um corte de pelo menos 0,75 pp – contra 0,50 pp da estimativa anterior.
Levando em conta que o Fed tende a subir ou baixar os juros em 0,25 pp de cada vez, o dot plot sugere três cortes ao longo das oito reuniões do ano que vem – sendo que as primeiras rolam em janeiro, março e maio.
Até ontem, 39,7% do mercado (de acordo com a pesquisa diária do CME) apostava que o primeiro corte viria em março. Hoje, após a divulgação do dot plot, essa proporção subiu para 63,7%.
Também até ontem, 24,2% acreditavam que mesmo na reunião de maio ainda seria mantido o patamar atual, sem cortes. Agora, apenas 5,3% acreditam nessa hipótese. Ou seja: é uma expectativa geral de que “de maio não passa”, com um forte viés para os cortes comecem em março mesmo. 11,8% são ainda mais otimistas: esperam um primeiro corte ainda em janeiro. Ontem, só 4% faziam tal aposta.
Na coletiva após a divulgação, Jerome Powell fez seu papel, e tentou acalmar os mais afoitos. Disse, de novo, que não descarta um novo aumento nos juros caso a inflação não convirja para a meta, de 2%. Mas o recado já estava dado na ata do Fed.
A última, de novembro, começava dizendo: “Indicadores recentes sugerem que a economia está expandindo com força“. Isso é ruim, no contexto atual: uma economia em forte expansão é uma economia sujeita a mais inflação. Logo isso indicava uma tendência de mais aperto nos juros (ou, pelo menos, da manutenção deles em 5,5%, a maior em 22 anos, por mais tempo).
A ata de agora veio com outras palavras-chave: “Indicadores recentes sugerem que a economia desacelerou ante o forte ritmo do terceiro trimestre”. Ou seja: dá a letra de que as condições para começar os cortes estão no ar.
Com isso, as taxas dos treasuries de 10 anos caíram a 4,01% – de 4,20% ontem. Por aqui, os juros futuros caíram pela curva toda, puxando os títulos públicos. A taxa real do IPCA+2035 caiu fortes 13 pontos base, a 5,51% – de 5,64% ontem. É o menor patamar desde maio.
Cai o juro, sobe o preço na marcação mercado – o valor de cada título. Quem tem IPCA+2035 na carteira, então, viu seu saldo subir 1,5% em um dia. Quase dois meses de CDI numa tacada só.
O big picture
Determinar as taxas de juros de um país equivale a dirigir um carro com os freios avariados. Na chuva. E de noite. Porque simplesmente não dá para saber quando e como a inflação vai ceder num ciclo de alta. Você pisa no freio (ou seja, sobe os juros) e mantém o pedal pressionado (deixa os juros lá no alto) para drenar moeda do mercado e arrefecer a economia. A inflação começa a cair. Ok.
Mas quando é a hora de tirar o pé do freio (começar os cortes)? Quando a inflação chega na meta? Não, porque as altas nos juros têm efeito retardado. Mantenha a taxa no pico com a inflação já na meta, e o perigo passa a ser de recessão iminente. O próprio Powell lembrou hoje, aos mais desavisados, de que não, não vai esperar a inflação chegar a 2% para iniciar os cortes.
E o fato é que a inflação pelo núcleo do PCE, o índice que o Fed tem por objetivo de levar a 2%, está, sim, em franca desaceleração na leitura em 12 meses. Aqui:
Outubro: 3,5%
Setembro: 3,7%
Agosto: 3,8%
Julho: 4,3%
O de novembro só sai no dia 22/12. O núcleo do CPI, o outro índice de inflação dos EUA, ficou estável em 4,0% para 12 meses encerrados em novembro, mesma taxa de outubro. Caso o PCE interrompa a sequência de quedas, acende-se novamente a luz vermelha. Por ora, vale super quartar com os bons agouros do dot plot.
Até amanhã.
MAIORES ALTAS
Magalu (MGLU3): 10,96%
Hapvida (HAPV3): 8,67%
MRV (MRVE3): 8,23%
Gol (GOLL4): 7,52%
Asaí (ASAI3): 7,21%
ÚNICAS BAIXAS
SLC Agrícola (SLCE3): -0,82%
IRB (IRBR3): -0,76%
BB Seguridade (BBSE3): -0,51%
Eztec (EZTC3): -0,27%
Ibovespa: 2,42%, aos 129.465 pontos
Em Nova York
S&P 500: 1,37%, aos 4.707 pontos
Nasdaq: 1,38%, aos 14.733 pontos
Dow Jones: 1,40%, aos 37.090 pontos
Dólar: -0,92%, a R$ 4,92
Petróleo
Brent: 1,37%, a US$ 74,24
WTI: 1,25%, a US$ 69,47
Minério de ferro: -1,35%, a US$ 133,27 por tonelada na bolsa de Dalian (China).