Nova York e Lula entram em campo para tentar tirar Ibovespa do buraco
China reforça compromisso de fazer o PIB crescer 5% neste ano, e iça minério de ferro.
Bom dia!
A ata do Fed abateu os mercados ocidentais no pregão de ontem – e estendeu o estrago para as bolsas asiáticas na madrugada de hoje. Se os investidores esperavam por uma sinalização de que o ciclo de alta de juros estava chegando ao fim, receberam um comunicado duro que não descartou novos aumentos nem estipulou uma data para o encerramento do aperto monetário.
“Com a inflação ainda bem acima da meta de longo prazo do Comitê e o mercado de trabalho permanecendo aquecido, a maioria dos participantes [do Fomc, o comitê de política monetária] continuou a ver riscos significativos de alta para a inflação, o que pode exigir mais aperto nos juros”, disse o documento, que se refere à reunião que rolou no fim de julho.
Em resposta ao tom hawkish adotado pelo Fed, os investidores devem redobrar a atenção para os dados econômicos do país até 20 de setembro (próxima reunião do Fomc). Hoje sai uma pista: o relatório de pedidos de auxílio-desemprego, um documento semanal que ajuda a rastrear o número de demissões no país.
O mercado de trabalho tem sido um ponto-chave na cruzada do Fed contra a alta de preços nos EUA. Por lá, a oferta de empregos tem diminuído aos poucos – mas continua nas alturas. Em julho, foram criados 187 mil postos de trabalho. Em 2023, a média é de 200 mil novas vagas por mês (contra 400 mil/mês em 2022).
Enquanto isso, a taxa de desemprego permanece em 3,5%, perto da mínima histórica registrada em 2020.
Um mercado de trabalho forte significa mais poder de barganha para os funcionários, que passam a exigir salários mais altos. Isso costuma ter dois efeitos: primeiro é que, com mais dinheiro no bolso, os trabalhadores consomem mais – e isso mantém a economia aquecida. E aí as empresas, que estão com custos maiores porque os salários subiram, conseguem repassar essa despesa para o produto final.
Ou seja: o mercado de trabalho aquecido é ótimo para os trabalhadores, mas não ajuda o BC americano em seu combate à inflação.
Em junho, o dot-plot – um relatório trimestral que reúne expectativas dos diretores do Fed sobre as próximas decisões de política monetária – mostrou que a maioria do colegiado projetava a “Selic” americana no intervalo entre 5,50% e 5,75% ao final de 2023.
Na ata de ontem, sem a atualização de estimativas, o Fed adotou um tom de maior cautela.
Ao mesmo tempo que deprimiu a renda variável, a ata fez disparar os títulos americanos, chamados de Treasures. O rendimento de títulos de 10 anos subiu para 4,31%. É um pouco abaixo do pico recente registrado em outubro do ano passado, que foi o mais alto desde 2007.
Hoje, porém, os futuros americanos amanheceram de volta ao azul, dando algum respiro de esperança de que o Ibovespa possa bater no fundo do poço. Os papéis de Vale e Petrobras sobem no pré-mercado americano, mais um sinal positivo. Em parte, agradeça a China.
Estímulos na China
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, foi a público dizer que o governo vai trabalhar para atingir os objetivos de crescimento do ano – a meta é de alta de 5% no PIB. Ele prometeu que o país oferecerá estímulos para expandir a demanda doméstica e promover investimentos no setor privado.
Além disso, disse que o governo implementará reformas em empresas estatais e oferecerá mais iniciativas para atrair e utilizar capital estrangeiro.
Em meio à piora de dados econômicos e o aprofundamento da crise de crédito no país, um anúncio de novas medidas governamentais era ansiosamente aguardado pelos investidores. Por isso, apesar de vaga e sem detalhes sobre os estímulos, a fala de Li Qiang foi abraçada pelo mercado.
Depois de quatro dias em queda, a bolsa de Xangai fechou em alta de 0,43%. Na bolsa de Shenzhen, alta de 0,85%. Já o minério de ferro em Dalian deu um salto duplo carpado: +4,34%.
No Brasil
Por aqui, o foco fica no desenrolar da treta entre a Câmara dos Deputados e o Ministério da Fazenda.
O que rolou foi o seguinte: em uma entrevista publicada na segunda-feira, Haddad disse que a “Câmara está com muitos poderes”, uma característica que considera sem precedentes. Mais: que esse poder não deveria ser usado para “humilhar o Senado e o Executivo”.
O comentário desagradou Arthur Lira, o presidente da Câmara, que respondeu chamando o comentário de enviesado e descontextualizado.
O problema é que o mal-estar ameaça o avanço de pautas econômicas no Congresso. Depois da fala de Haddad, uma reunião que discutiria o novo arcabouço fiscal foi cancelada. A votação do arcabouço está marcada para a próxima terça-feira.
Tem mais um projeto na berlinda: a taxação de fundos offshores – que coloca um imposto sobre investimentos feitos por fundos fora do país. A pauta é considerada um jabuti na medida provisória que atualiza a tabela do Imposto de Renda. Taxando os fundos, Haddad conseguiria bancar o aumento da faixa da isenção do IR para dois salários mínimos.
Como forma de retaliação à fala do Ministro, a Câmara agora considera retirar essa parte do texto.
Ontem, Lula entrou em cena. Durante a noite, o presidente se reuniu com Lira para discutir a reforma ministerial. Agora é ver se a conversa conseguiu colocar panos quentes na ferida.
Bons negócios.
Futuros S&P 500: 0,15%
Futuros Nasdaq: 0,14%
Futuros Dow Jones: 0,18%
*às 8h02
Bancos renegociam 1,3 milhão de dívidas pelo Desenrola
Em quatro semanas de Desenrola Brasil, o programa renegociou R$ 8,1 bilhões em dívidas, segundo informações da Febraban divulgadas nesta quarta-feira (16).
Cerca de 1,3 milhão de dívidas foram repactuadas, beneficiando 985 mil clientes. No mesmo período, as instituições financeiras limparam o nome de 5 milhões de consumidores que tinham dívidas de até R$ 100.
Os dados da Febraban se referem à faixa 2 do programa, que inclui brasileiros com renda mensal de até R$ 20 mil. A faixa 1, voltada àqueles com renda mensal de até dois salários mínimos, entra em vigor a partir de setembro. A adesão ao programa vai até 31 de dezembro.
09h30, EUA: Departamento do Trabalho divulga pedidos de auxílio-desemprego da semana
- Índice europeu (Euro Stoxx 50): -0,29%
- Londres (FTSE 100): -0,16%
- Frankfurt (Dax): -0,08%
- Paris (CAC): -0,08%
*às 8h05
- Indice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,33%
- Hong Kong (Hang Seng): -0,01%
- Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,44%
- Brent: 0,89%, a US$ 84,19
- Minério de ferro: 4,34% a US$ 105,13 por tonelada na bolsa de Dalian (China)
*às 7h52
Como a China evita indicadores decepcionantes? Para de publicá-los
Em 2012, ano em que Xi Jinping foi eleito, o Escritório Nacional de Estatísticas da China publicou impressionantes 80 mil pesquisas. Um ano depois, milhares delas não foram mais atualizadas. Corta para 2016, mais da metade de todos os indicadores publicados pelos departamentos de estatísticas nacionais e municipais foram descontinuados.
Esta semana, Xi Jinping cancelou a divulgação de dados de desemprego entre jovens, num momento em que vários indicadores geram preocupação sobre a saúde econômica da segunda maior economia do mundo. Para entender melhor a estratégia do líder de Estado, vale a leitura deste texto de 2022 do Financial Times.