Plot twist: Payroll vem forte, mas bolsas sobem mesmo assim. Entenda.
Criaram-se 336 mil postos de trabalho nos EUA, um assombro. Mas o mercado reage bem a outro dado: a desaceleração nos salários, que não favorece uma nova elevação dos juros em novembro.
A semana da espera pelo Payroll terminou com um plot twist no final do último episódio. O principal relatório de empregos dos EUA mostrou que o mercado de trabalho continua a todo vapor por lá. Bem mais do que Wall Street imaginava. Mas essa não foi a maior surpresa. Vejamos aqui.
O relatório registrou a criação de 336 mil postos de trabalho nos EUA em setembro. Trata-se do maior salto desde janeiro, e é quase o dobro das 170 mil vagas projetadas por analistas (no levantamento da Bloomberg).
Há um lado meio cheio e outro meio vazio nesse copo. A parte boa: um mercado de trabalho forte indica que a demanda por produtos e serviços no país continua crescendo, o que afasta o medo de uma recessão econômica desencadeada pela alta dos juros.
Por outro lado, mostra que o Fed ainda tem um caminho longo pela frente até alcançar sua meta de inflação de 2% – já que o mercado de trabalho aquecido tem sido o maior ponto de atenção da instituição na cruzada contra a alta nos preços.
Pela manhã, logo após a divulgação do Payroll, o mercado financeiro desanimou pensando na possibilidade de juros altos por mais tempo do que o esperado. O S&P 500, que operava em alta no pré-mercado, abriu em queda de 0,55%; a Nasdaq, -0,70%. O Ibovespa foi ainda mais fundo: chegou a cair 1,19% na sessão.
Mas isso era o que se esperava caso o Payroll viesse forte. O plot twist foi outro. Ainda pela manhã, os sinais deram meia volta e dispararam para cima. Saldo do dia: S&P 500 subiu 1,18%; Nasdaq, 1,60% e o Ibovespa, 0,78%, aos 114.169 pontos.
O segredo aí está em outro dado do Payroll: os salários. Em setembro, a remuneração média dos americanos subiu 0,2% (4,2% em 12 meses). Trata-se do menor ritmo anual desde junho de 2021. Um pouco abaixo da previsão, que indicava 0,3% no mês e 4,3% no ano.
Ou seja: apesar da disparada do número de postos de trabalho, o salário dos americanos, na média, subiu pouco no mês passado. Bom para o combate à inflação, já que salários mais altos significam mais poder de compra – e, consequentemente, mais dinheiro circulando na economia, o que puxa os preços para cima.
Apesar de abaixo das expectativas, vale apontar, o avanço dos salários continua alto. Economistas consultados pela Reuters dizem que um avanço anual de 3,5% nos salários seria o ritmo condizente com uma inflação a 2% – (o núcleo do PCE, índice preferido do BC americano está em 3,88% hoje) .
E outra: no fim, a taxa de desemprego do país se manteve no mesmo patamar de agosto, em 3,8%. A expectativa era de leve queda, para 3,7%.
Por último (e menos importante), alguns analistas também apontaram que uma mudança no cálculo do ajuste sazonal do Payroll ajuda a explicar a discrepância entre as expectativas do mercado e o dado concreto. A revisão puxou o número de vagas abertas em meses anteriores para cima – agosto, por exemplo, registrou 227 mil vagas, contra 187 mil antes da revisão.
Ou seja: depois de olhar o relatório com mais calma, Wall Street passou a interpretar que os dados ali não mudam muuuita coisa para a próxima decisão do Fed. “Há um número suficiente de boas notícias no crescimento dos salários e na taxa de desemprego para impedir que o Fed volte a aumentar os juros”, disse um analista da Moody’s à CNBC.
Dados do CME, a bolsa de Chicago, apontam que mais agentes do mercado passaram a enxergar uma alta de juros na próxima reunião do Fomc, que rola em 1º de novembro. Hoje, 29,2% apostam em alta de 0,50 pp – ontem eram 20,1%. Ainda assim, a maioria das previsões (70,8%, contra 79,9% ontem) são de manutenção da taxa de juros.
PETR4: 2,38%; BBAS3: 4,07%
Por aqui, o Ibovespa passou o dia acompanhando o humor externo. Os ventos mais otimistas lá fora, junto com uma leve recuperação da cotação do petróleo (0,61%), ajudaram a Petrobras a se recuperar do estrago da semana.
Há alguns dias, dados do Departamento de Energia americano indicaram uma queda da demanda pela commodity mundo afora. Ao mesmo tempo, uma visão mais pessimista sobre o desenrolar da política monetária americana ajudou a impulsionar o receio de uma desaceleração global. Resultado: em dois dias, queda de 0,61% no brent, a R$ 84,58. Isso, claro, depois do rali de mais de 30% em três meses, que quase levou a cotação a US$ 100.
As petroleiras brasileiras acompanharam o escorregão. Na quarta, as ações PETR4 chegaram a cair 3,97%. Ontem, leve alta de 0,33%. Agora, afastado (por ora) o medo de recessão nos EUA, deu pra subir legal: PETR4 3,38%, entre as maiores altas do dia. Outras petroleiras acompanharam: PRIO3 subiu 1,90% e RECV3, 1,69% – só RRRP3 caiu, -0,32%.
Destaque também para o Banco do Brasil. BBAS3 reagiu com força à recomendação de compra pelo Bradesco BBI. Os analistas do banco escreveram que a companhia é “uma fortaleza, com um valuation atraente demais para ser ignorado”. O P/L do banco está em reles 3,7 (ante 8,4 do Itaú, por exemplo) mesmo com a alta de 32% nos últimos 12 meses, que elevaram o papel a R$ 48,76. O BBI elevou seu preço alvo, que estava justamente em R$ 48, para R$ 60.
É isso. E talvez a resiliência da economia americana, que afasta o fantasma da recessão, também seja algo “atraente demais para ser ignorado”, a despeito do efeito inflacionário. Aguardemos pelas próximas surpresas no roteiro do mercado.
Bom fim de semana!
MAIORES ALTAS
Casas Bahia (BHIA3): 8,93%
Banco do Brasil (BBAS3) 4,07%
Carrefour (CRFB3): 3,22%
Petrobras On (PETR3): 2,51%
Petrobras Pn (PETR4): 2,38%
MAIORES BAIXAS
Yduqs (YDUQ3): -7.66%
Petz (PETZ3): -5,03%
Cogna (COGN3): -3,49%
Dexco (DXCO3): -3,23%
Hapvida (HAPV3): -2,88%
Ibovespa: 0,78%, aos 114.169 pontos. Na semana, -2,06%.
Em Nova York
S&P 500: 1,18%, a 4.308 pontos
Nasdaq: 1,60%, a 13.431 pontos
Dow Jones: 0,87%, a 33.407 pontos
Dólar: -0,14%, a R$ 5,16. Na semana, +2,69%.
Petróleo
Brent: 0,61%, a US$ 84,58. Na semana, -8,26%.
WTI: 0,58%, a US$ 82,79. Na semana, -8,81%.
Minério de ferro: feriado na China. Em Singapura, 0,04%, a US$ 117,55 por tonelada