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Como melhorar a sua inteligência emocional

A grande maioria dos profissionais bem sucedidos sabe controlar as próprias emoções. Na outra ponta, o desempenho é o oposto. Entenda de uma vez o que é inteligência emocional, e veja como desenvolvê-la na sua vida.

Por Juliana Américo | Edição: Alexandre Versignassi | Design: Caroline Aranha | Ilustração: Luiz Mello
13 Maio 2022, 06h00
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 (Luiz Mello/VOCÊ S/A)
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William Foster vive em Los Angeles. Depois de perder o emprego e o casamento, tem um surto no dia do aniversário da filha. Abandona o carro no meio do trânsito, destrói uma mercearia porque não consegue troco e sai atirando em uma lanchonete por causa do atendimento ruim. Reconhece essa sequência de eventos? Sim: é de Um Dia de Fúria, aquele filme com o Michael Douglas. A obra de 1993 tornou-se um clássico instantâneo justamente por refletir (de forma exagerada, claro) o que todo mundo gostaria de fazer quando se sente contrariado: dar vazão ao instinto de “não levar desaforo para casa”. À arte de lidar com esses instintos de forma civilizada dá-se o nome “inteligência emocional”.

Trata-se da capacidade de reconhecer e controlar emoções profundas antes de sair agindo por impulso. Fazer isso ajuda a reduzir a ansiedade, a ter relacionamentos mais saudáveis, a tomar decisões melhores, a receber e dar feedbacks mais eficientes. Uma longa lista de vantagens.

Os estudos sobre a habilidade de gerenciar os sentimentos se aprofundaram nos anos 1990, com as pesquisas dos psicólogos Peter Salovey e John D. Mayer. E o termo ficou popular após o livro Inteligência Emocional, publicado em 1995 por Daniel Goleman, psicólogo de Harvard.

Goleman lista cinco pilares essenciais para determinar se uma pessoa é inteligente emocionalmente ou não. Os dois primeiros envolvem autoconhecimento: 1) saber como você reage em situações de estresse e identificar padrões de comportamento; e 2) controlar essas emoções.
Por exemplo: você tem medo de falar em público, mas não dá para fugir de apresentações para o resto da vida. Em algum momento vai ter de falar diante de um grupo. Então, como você já identificou a situação que te deixa com medo, dá para desenvolver técnicas para fazer com que esse sentimento não te domine, como montar um roteiro com começo, meio e fim; e ensaiar.

O terceiro pilar é a automotivação. A cada dia da vida, passamos por vários altos e baixos. Um resultado positivo no trabalho pode ser imediatamente seguido por um momento de frustração. A capacidade de manter-se motivado diante de dificuldades é o que o difere as pessoas que têm boa inteligência emocional das que não têm.

Os dois últimos envolvem a capacidade de socialização. Um é a empatia. Pessoas inteligentes emocionalmente são as mais capazes de se colocar no lugar do outro. E isso já forma a essência do quinto pilar: o de relacionamentos interpessoais. Quando você entende as motivações de alguém, o porquê de o outro ter tomado tal decisão, fica mais fácil conviver em harmonia – e, numa discussão, negociar para chegar a algo mais próximo de um consenso.

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Mas existem outros atributos ligados à inteligência emocional, claro. “Um deles é o foco, que está ligado ao pilar da motivação para finalizar determinadas tarefas. Tem também a assertividade: sentir-se seguro o bastante para assumir um posicionamento”, diz a psicóloga Denize Dutra, coach e CEO da Denize Dutra Gestão e Desenvolvimento.

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(Luiz Mello/VOCÊ S/A)

No currículo

Uma ideia equivocada persistiu por muito tempo: a de que emoções e ambiente de trabalho não combinavam. Profissionais deveriam deixar os sentimentos de lado assim que batessem o ponto. Hoje, ainda bem, entende-se que isso não faz sentido. “As emoções são reflexos. É igual quando você vai ao médico e ele bate um martelinho no seu joelho. Sua perna vai levantar, não tem como controlar. Com as emoções é a mesma coisa: não há como evitar que elas aconteçam”, diz Ana Paula Tognotti, psicóloga da Zenklub.

E o ambiente de trabalho é cheio de situações que deixam as emoções à flor da pele, claro. Caso das temidas reuniões de feedback. Durante uma avaliação negativa, é bem provável que uma pessoa com baixa inteligência emocional simplesmente fique com raiva e passe a discutir – sem levar em conta que feedbacks servem justamente para repensarmos certos pontos, corrigir atitudes que a chefia interpreta como falhas antes que seja tarde. Aí não tem jeito: a reação ruim ao feedback vai colocar outro problema na sua conta.

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Tem outra. Trabalho é igual família: você não escolhe as pessoas com quem vai conviver. Parentes tendem a relevar momentos de descontrole. Colegas não. Logo, não há trabalho em equipe bem feito sem boas doses de equilíbrio emocional.

E isso impacta na produtividade, obviamente. Estudos da consultoria TalentSmart concluíram que 90% dos trabalhadores com melhor desempenho possuem boa inteligência emocional. Na outra ponta, a estatística praticamente se inverte: 80% mostram pouca habilidade em dominar as próprias emoções.

Pelo que a gente viu até aqui, o assunto parece simples. Mas não é. A começar pelo fato de que é difícil identificar exatamente o que você está sentindo. “Uma criança pequena muito apegada aos avós, que está sem vê-los há duas semanas, vai ter algumas sensações, como tristeza, desânimo, apatia. Ela não sabe o que esse conjunto de sensações significa. Alguém que está próximo a ela precisa falar que tudo isso se chama ‘saudades’. Esse vocabulário emocional também precisa ser expandido ao longo da vida [adulta]. E isso também é treino”, diz Ana Paula, da Zenklub.

Entender que você sentiu inveja; e não algo mais genérico, como “raiva”; é importante. Mas não menos do que isso é compreender que, putz, a Terra não gira em torno de você. Todos nós, todos mesmo, temos um lado egocêntrico. Tendemos a achar que a fonte dos nossos problemas está nos outros. No mundo real, porém, não é assim que funciona. “É preciso passar por um processo de autorresponsabilização. Quem não é emocionalmente inteligente costuma colocar a culpa dos seus comportamentos nos outros, na família, no chefe”, afirma Tatiana Pimenta, CEO da Vittude. Em suma: boa parte dos problemas que você vive é fruto do seu comportamento. Em vez de vitimizar-se no modo automático, tente entender quando a culpa por um entrevero foi sua, e peça desculpas quando perceber.

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Hora do treino

Sabemos desde o jardim de infância que há quem lide melhor e quem lide pior com os próprios sentimentos. Inteligência emocional é uma habilidade como qualquer outra – você pode nascer com ela, ou sem ela. A boa notícia é que, justamente por ser uma habilidade como qualquer outra, há como melhorá-la. Uma pesquisa americana 1, inclusive, mostra que profissionais que recebem treinamentos em soft skills, como técnicas para entender melhor os problemas dos colegas, tornam-se 12% mais produtivos do que aqueles que não recebem.

Terapia pura e simples já ajuda. As sessões, afinal, aprimoram o autoconhecimento, sem o qual não há inteligência emocional. Mas também existem atividades mais práticas, focadas no trabalho. Uma delas é a de observação: todos os dias, assim que encerrar o expediente, separe dez minutos para relembrar como foi a sua rotina e listar os sentimentos que teve (principalmente os negativos). Ficou estressado durante uma reunião porque foi contrariado? Ficou acuado por tentar expor uma opinião diferente? Anote todas as emoções e quais foram as circunstâncias que levaram a elas.

Essa tarefa trabalha o conceito da previsibilidade. A ideia é que você saiba em qual situação determinado sentimento pode se manifestar no futuro, e se prepare com antecedência. Assim fica mais fácil de controlar qual vai ser a sua reação. E evite definições simples como “lidei bem” ou “lidei mal”. Aproveite o momento para melhorar sua percepção sobre como você realmente se sentiu. Amplie seu vocabulário emocional – ajuda a fatiar os problemas.

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Você pode perceber que reagiu de forma intempestiva só porque estava de mau humor. Então busque atalhos para evitar esses momentos. Um gatilho certo para ficar de cabeça quente é acumular tarefas chatas para depois. Pode ser lavar a louça, para quem está em home office, ou ter que limpar a caixa de e-mail. A dica é tirar esse tipo de coisa da frente logo no começo do dia, para não ter mais de lidar com a ansiedade de pensar nelas.
Claro que, se você for uma pessoa esquentada, vai acabar sendo impulsivo mais hora menos hora. Aí o jeito é segurar a bronca mesmo. Tente reagir menos quando algo estiver incomodando, assim você evita tirar conclusões precipitadas. Veja, não é fingir que não está sentindo nada e nem deixar passar situações abusivas. O objetivo é reduzir a transparência emocional, que é quando “está na cara” o que você está pensando, e dar tempo para que você reflita antes de tomar uma decisão. Em suma: é o velho “conte até dez”. Em boa parte das vezes, lá pelo oito já dá para ver que o caso que engatilhou o estresse talvez não tenha sido tão estressante assim.

Também crie o hábito de buscar feedback. Na maioria das vezes, não enxergamos as nossas atitudes da mesma maneira que os outros enxergam. É importante, então, entender como você é visto pelas outras pessoas. O feedback não deve ser encarado apenas como crítica, mas como uma ferramenta para descobrir os seus pontos fortes, aqueles que precisam ser melhorados, e aumentar o seu grau de consciência a respeito de si próprio. Vale pedir a amigos e familiares que avaliem a sua reação em momentos de estresse, e perguntar o que eles fariam de diferente. São pessoas da sua confiança, afinal. Você provavelmente ouvirá o diagnóstico delas com mais atenção do que o feedback de um chefe. E o processo pode ajudar você a receber feedbacks melhores do chefe lá na frente.

Por fim, para melhorar a empatia e a relação com outras pessoas, a dica é ser curioso sobre quem convive com você. Importar-se. Caso perceba que alguém está mais quieto ou mais agitado que o normal, pergunte se ele está com algum problema, se você tem como ajudar. Aproveite para treinar a escuta ativa: preste atenção de verdade no que a pessoa está dizendo antes de sair expondo a sua opinião.

O processo de aprimorar a inteligência emocional não é simples. Para boa parte das pessoas, envolve mudar (maus) hábitos arraigados. Mas vai na fé. Só o ato de tentar vai deixar claro para você que pouquíssimos dias da sua vida merecem mesmo ser um dia de fúria.

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